Softwares Livres: Riscos Jurídicos e Boas Práticas para Empresas

17 de abril de 2025

O uso de softwares livres (ou Open Source) tornou-se uma prática comum no ecossistema de tecnologia, especialmente entre empresas que buscam soluções escaláveis e com menor custo operacional. Ao eliminar a necessidade de aquisição de licenças tradicionais, essas ferramentas oferecem funcionalidades robustas — em muitos casos comparáveis (ou superiores) às de softwares proprietários.

Contudo, por trás da proposta de acessibilidade e inovação, surgem importantes questionamentos: esses softwares são juridicamente seguros? Quais são os riscos envolvidos?

A seguir, exploramos os principais aspectos a serem considerados, sob uma perspectiva técnica e jurídica.

O que caracteriza Softwares livres?

Todo software é estruturado a partir de um código-fonte — um conjunto de instruções escritas em linguagens de programação que determinam seu funcionamento.

Nos softwares livres, esse código é disponibilizado de forma aberta e pública, permitindo que qualquer pessoa acesse, revise, adapte ou distribua novas versões. Em geral, essas ferramentas são mantidas por comunidades técnicas descentralizadas e distribuídas gratuitamente, com melhorias contínuas feitas de forma colaborativa.

Quais os riscos práticos de sua adoção?

Apesar das vantagens, a utilização de softwares livres deve ser acompanhada de precauções. Entre os principais riscos:

1. Vulnerabilidades de segurança

A abertura do código-fonte, embora permita auditoria e melhoria por especialistas, também pode ser explorada por agentes mal-intencionados. Cibercriminosos com conhecimento técnico podem identificar brechas e arquitetar ataques com base em vulnerabilidades conhecidas.

Se o software for utilizado, por exemplo, na prestação de serviços a terceiros ou como parte de uma infraestrutura crítica, a responsabilidade por danos decorrentes de falhas de segurança pode recair sobre a empresa usuária.

2. Ausência de garantias e suporte

Por sua natureza comunitária e gratuita, softwares livres geralmente não contam com garantias contratuais, SLAs (Service Level Agreements) ou suporte técnico dedicado. Em ambientes corporativos, isso pode significar indisponibilidades prolongadas, dificuldade para resolução de bugs e impacto direto na operação do negócio.

E sob o ponto de vista jurídico?

1. Licenciamento e propriedade intelectual

Os softwares livres são distribuídos sob diferentes tipos de licenças (como GPL, MIT, Apache, BSD), cada uma com regras próprias de uso, modificação e redistribuição. A falta de atenção a essas licenças pode levar a infrações, como a obrigação de abertura do código de soluções derivadas ou até violações de direitos autorais.

Além disso, é comum que partes do código sejam reutilizadas de outras fontes — nem sempre de forma documentada ou legítima. Isso pode gerar disputas sobre a titularidade do código e responsabilização por uso indevido de propriedade intelectual de terceiros.

2. Riscos à privacidade e à LGPD

Outro aspecto crítico é a possibilidade de softwares livres conterem códigos ocultos ou mecanismos de rastreamento. Quando esses softwares são utilizados para tratar dados pessoais, sem que haja uma auditoria ou avaliação de segurança adequada, há o risco de descumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) — com implicações administrativas, judiciais e reputacionais.

Como mitigar riscos e adotar boas práticas para uso de Softwares Livres?

Softwares livres são, sem dúvida, ferramentas valiosas para a inovação tecnológica e a democratização do acesso à informação. Entretanto, seu uso em ambientes empresariais exige cuidados estruturados. Recomendamos:

  • Adoção de critérios de curadoria na escolha de ferramentas; 
  • Avaliação jurídica das licenças envolvidas e cláusulas de uso; 
  • Due diligence técnica e jurídica em casos de integração com produtos ou serviços; 
  • Auditoria periódica quanto a questões de segurança e privacidade; 
  • Previsão contratual de responsabilidades em relações com terceiros que envolvam software livre. 

Conclusão

A utilização de softwares livres não é, por si só, um risco — mas exige responsabilidade. Quando bem avaliados e integrados de forma consciente ao modelo de negócios, eles podem representar soluções eficientes, seguras e sustentáveis.

Se a sua empresa utiliza ou pretende incorporar softwares de código aberto em sua operação, é essencial contar com uma análise multidisciplinar, envolvendo profissionais das áreas jurídica e de tecnologia, para garantir conformidade legal, proteção da operação e viabilidade estratégica de longo prazo.

 

Sobre o Autor

João Paulo Gomes Massaro é advogado da área Consultiva do Assis e Mendes, com ampla experiência em Direito Contratual, Civil, Empresarial e Digital. Mestre em Direito com foco em Direitos Humanos e Políticas Públicas. Atua no suporte jurídico especializado para empresas e indivíduos nas áreas civil, digital e societário, auxiliando em decisões estratégicas.

Compartilhe:

Mais Artigos

Renovação de Ex-tarifários: prazo final em 30 de junho

Empresas que importam equipamentos de tecnologia, informática ou bens de capital devem ficar atentas: o prazo para a renovação de Ex-tarifários termina em 30 de junho de 2025. Se sua …

Aumento do IOF impacta duramente empresas de tecnologia: nova alíquota chega a 3,5% para pagamentos ao exterior

A partir de 23 de maio de 2025, as empresas brasileiras que contratam serviços ou pagam fornecedores no exterior passaram a enfrentar um novo obstáculo tributário: o aumento da alíquota …

Reforma Tributária e o Setor de Games: entenda o impacto da EC 132/2023 para estúdios, publishers e serviços digitais

O setor de games movimenta mais de R$ 12 bilhões no Brasil, conforme dados da PwC (2023), e envolve desde estúdios independentes até grandes publishers internacionais, passando por prestadores de …

Web Scraping e LGPD: Entenda os Riscos Jurídicos e Como Evitar Sanções

O uso de ferramentas de web scraping tem crescido entre empresas brasileiras que buscam mais eficiência na coleta e análise de dados públicos online. No entanto, essa prática deve ser …

Projeto de Lei 36/25: Proibição da Venda de Dados Biométricos Sensíveis está em Debate no Congresso

Entenda como a proposta pode impactar a proteção de dados no Brasil e o que muda na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)   O recente caso envolvendo a …

Acesso Indevido a Mensagens de WhatsApp e Envio a Terceiros Gera Indenização

É inegável que o whatsapp está se tornando cada vez mais importante para todos. Seja para uso pessoal ou profissional, o whatsapp é uma ferramenta essencial, presente a cada momento …

Entre em contato

Nossa equipe de advogados altamente qualificados está pronta para ajudar. Seja para questões de Direito Digital, Empresarial ou Proteção de Dados estamos aqui para orientá-lo e proteger seus direitos. Entre em contato conosco agora mesmo!

Inscreva-se para nossa NewsLetter

Assine nossa Newsletter gratuitamente. Integre nossa lista de e-mails.