Na era da inteligência artificial, o mundo assiste a uma corrida global para o aprimoramento e aplicação dessa tecnologia em áreas como saúde, educação, indústria, e tecnologia. No entanto, o rápido avanço da IA traz consigo a necessidade urgente de regulamentação para mitigar riscos e proteger os direitos dos indivíduos.
Com foco na regulamentação do desenvolvimento e uso ético da IA, a União Europeia lançou a primeira legislação global específica para a tecnologia: o AI Act, que já está servindo de inspiração para outros países. No Brasil, o tema também ganha força. Desde 2020, o Congresso discute a regulação da IA, e em 2023 o Projeto de Lei 2338 se destacou como um marco na busca por uma governança tecnológica responsável.
Mas como o PL 2338 se compara ao AI Act europeu? Vamos explorar os principais pontos de convergência entre as duas legislações.
1. Governança Baseada em Risco
Ambos os textos seguem o princípio de que quanto maior o risco de um sistema de IA, maiores são as exigências regulatórias e de segurança. O AI Act categoriza os sistemas de IA em quatro níveis de risco: inaceitável, alto, limitado e mínimo. Já o PL 2338 simplifica em três níveis: excessivo, alto e residual. Ambos, contudo, seguem o mesmo raciocínio de que sistemas de IA que representem maior risco devem atender a requisitos mais rigorosos para garantir a segurança dos usuários.
2. Avaliação e Mitigação de Riscos
Para sistemas de IA de alto risco, tanto o AI Act quanto o PL 2338 exigem uma avaliação de impacto e mitigação de riscos antes de sua liberação. A legislação europeia inclui uma avaliação do impacto sobre os direitos fundamentais, enquanto no Brasil há a obrigação de informar sobre qualquer risco que não tenha sido mitigado. Esse processo visa garantir que os sistemas de IA sejam seguros, éticos e transparentes.
3. Supervisão Humana em Sistemas de Alto Risco
Nos dois marcos regulatórios, é necessário haver supervisão humana sobre sistemas de IA de alto risco. Essa supervisão permite que humanos intervenham e corrijam falhas caso o sistema de IA apresente comportamentos prejudiciais ou indesejados. Essa prática é uma medida de segurança importante para evitar abusos e reforçar a responsabilidade dos operadores de IA.
4. Direito à Transparência e Explicação das Decisões Automatizadas
Tanto o AI Act quanto o PL 2338 asseguram aos indivíduos o direito à transparência, exigindo que as decisões automatizadas que afetam as pessoas sejam explicadas de forma clara e compreensível. Esse direito permite que os usuários entendam como as decisões tomadas por sistemas de IA podem impactar suas vidas e garante que as operações de IA sejam mais transparentes e justas.
5. Proteção de Direitos Fundamentais e Dados Pessoais
A proteção dos direitos fundamentais e dos dados pessoais é um tema central em ambas as legislações. O AI Act estabelece normas rigorosas para o uso de dados sensíveis, enquanto o PL 2338 foca na privacidade dos dados e combate à discriminação. Essas regulamentações buscam equilibrar a inovação tecnológica com a proteção dos direitos humanos, assegurando que a IA seja usada de forma ética e responsável.
6. Documentação e Registro dos Processos de IA
A documentação é outra exigência importante nos dois marcos. O AI Act exige que registros sejam mantidos por até 10 anos para sistemas de IA de alto risco, enquanto o PL 2338 demanda um registro detalhado do ciclo de vida desses sistemas. Esses registros são essenciais para a rastreabilidade e responsabilidade no uso da IA, além de permitir auditorias eficazes em caso de falhas ou irregularidades.
7. Sanções e Mecanismos de Fiscalização
Para assegurar o cumprimento das normas, ambos os textos estabelecem sanções significativas para o descumprimento. O AI Act prevê multas de até 6% do faturamento global anual da empresa infratora, enquanto o PL 2338 estabelece penalidades que podem chegar a R$ 50 milhões. Ambos também propõem a criação de autoridades competentes para fiscalização, embora o Brasil enfrente desafios adicionais devido a possíveis limitações de recursos para garantir a implementação efetiva da fiscalização.
8. Cooperação Internacional
O AI Act incentiva a cooperação internacional, buscando padronizar a regulamentação da IA em nível global. O PL 2338 segue a mesma linha, promovendo a colaboração entre países para facilitar a adoção de normas que protejam os direitos dos cidadãos e fomentem a inovação tecnológica. No entanto, a implementação prática desse objetivo pode ser desafiadora, considerando as diferenças legislativas e culturais entre os países.
Conclusão
O AI Act da União Europeia e o PL 2338 no Brasil representam esforços importantes na regulamentação da IA, com foco na transparência, responsabilidade e proteção dos direitos humanos. Ambos os marcos regulatórios visam assegurar que a IA seja utilizada de forma ética, protegendo os usuários e mitigando os riscos associados.
Embora essas regulamentações possam apresentar desafios para empresas e desenvolvedores, elas também promovem a confiança pública na IA, essencial para o desenvolvimento sustentável da tecnologia. A governança rigorosa e a responsabilidade no uso da IA são passos cruciais para garantir que a tecnologia sirva ao bem comum, promovendo inovação com segurança e respeito aos direitos dos cidadãos.
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